segunda-feira, 18 de abril de 2011

Herman José

Ainda não havia falado daquele que foi o grande (e porventura único) ídolo da minha infância e adolescência. Mas a  entrevista que deu à escritora Rita Ferro para a revista "Caras" pareceu-me ser um bom pretexto para uma breve incursão no tema ( a primeira de muitas, assim espero). Aquele que eu considerei o maior génio artístico de todos os tempos, por quem eu abdicava de uma passagem de ano "à séria" só para ficar colada à televisão a absorver cada minuto de originalidade que nos oferecia de modo tão desprendido, afinal não é perfeito. E com a passagem do tempo e o amadurecimento normal da idade fui vendo nele um ser humano com virtudes e defeitos, merecedor de maiores elogios pelo profissional que é e pelo talento artístico que tem, mas que também suscita os piores comentários pelo egocentrismo exacerbado.
Este excerto da entrevista que aqui transcrevo é revelador disso mesmo. Assume-se perante o mundo como um sobredotado, tem uma atitude de superioridade em relação aos seus colegas de profissão (pelo menos os nacionais) mas, por outro lado, tem a humildade de admitir que se sente ameaçado pelos novos talentos que vão surgindo.  

«Rita Ferro: Um dia, ouvi com os meus ouvidos a Amália dizer que não gostava de ouvir cantar bem os seus fados, que isso lhe doía de alguma forma. Dói-te a graça dos outros?
Herman José: Dói. Por isso prefiro admirar os que já morreram. Pelo menos nesse aspecto sei que lhes levo vantagem. O meu pai - que era um gentleman - ensinou-me o conceito de fair-play, de maneira que, quando estou na presença de algum talento avassalador, sei disfarçar, bater palmas e fingir que a coisa não me afecta.
(...)
Rita Ferro: Conta uma história do tempo da Escola Alemã...
Herman José: Como era um miúdo sobredotado em termos artísticos, perto dos 14 anos, e por ser o centro de todas as atenções, passei a alvo a abater pelos meus colegas de aula. Percebi que ia ser infeliz e fui ter com o director para lhe pedir se podia chumbar o ano para "mudar de colegas e de atitude". Ele não só percebeu o meu drama, como me ajudou na missão. No ano seguinte, passei a representar o papel de "miúdo normal com jeito mediano para as artes". Não só fui assimilado como arranjei amigos para o resto da vida. Quando perceberam que eu era sobredotado já estavam em idade de me perdoar. [risos]»

Neste país totalmente vendido ao capitalismo, a antiguidade há muito que deixou de ser um posto. Temos de saber envelhecer com classe e aceitar que o nosso lugar poderá não ser no centro dos holofotes. Se o Herman souber dar esse passo, terá sempre o seu lugar no panorama artístico nacional, nunca deixará de ser o "Verdadeiro Artista".
Para quem tiver curiosidade, pode ler a entrevista completa aqui.

2 comentários:

  1. Guardo grandes recordações de infância de Herman José. Aquelas noites em família, pregados à TV. Inesquecível!...
    Mas claro, de vez em quando tem as suas tiradas infelizes.

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  2. Eu gosto deste Herman. Deste homem verdadeiro que não se faz passar por bom samaritano. Dou o exemplo dessa grande comunicadora Júlia Pinheiro que aparentemente é uma humilde e que pertence ao povo e depois na zona onde vivia- Azeitao- era a maior snob que se pode imaginar. Num país em que temos um primeiro ministro mentiroso, um star sistem de gente falsa e que só vive das aparências, prezemos aqueles que dizem a verdade e o que sentem! Adorei a entrevista que se pautou por inteligência e acutilância, verdade e mestria!

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