Se há fruta que me transporta imediatamente para as memórias da minha infância são as cerejas. Sou natural de uma zona com muitos cerdeiros (vulgo, cerejeiras) onde todas as famílias têm, pelo menos, uma árvore destas no quintal.
Mas como qualquer boa apreciadora de cerejas, não consigo comer qualquer uma. Têm de ter características muito próprias que o meu paladar é fidalgo. Só como se forem doces q.b., carnudas, vermelhas e rijas.
Do que guardo melhores recordações é do dia da apanha. Enquanto os mais velhos tratavam desta tarefa com os maiores cuidados, porque o fruto é sensível, os mais pequenos competiam entre si para ver quem conseguia meter mais cerejas na boca de uma só vez. O truque era escolher as mais pequenas e entupir a boca até deixar de respirar. Nessa altura começava-se a mastigar e ganhava quem atirasse mais caroços cá p´ra fora. O meu recorde pessoal são 11. Mas o pior era depois. É que para se conseguir este recorde tinha de se praticar muito e conseguem imaginar o efeito que surtia no aparelho digestivo comer cerejas acabadas de colher, quentes e em quantidades proibitivas. Era um ver se te avias para a casinha.
Mas na memória o que fica são mesmo as boas recordações, a liberdade do campo e os sabores típicos da aldeia onde, pode não haver dinheiro para luxos mas a mesa é sempre farta com aquilo que a terra dá.
E isto tudo a propósito da minha ida à aldeia este fim de semana. Vamos ver se trago uns brinquinhos.
Adorei este texto, identifico-me muito com ele!!
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